Às vezes é difícil ser uma garota, uma mulher, uma adolescente, uma adulta e até mesmo uma criança, quem sabe, tudo ao mesmo tempo. É difícil ter vinte e poucos anos. É difícil ter vinte e poucos anos e perceber que você conhece tão pouco de si, que não sabe o que quer fazer da sua vida, que não sabe dizer se se arrepende ou não de ter cursado a faculdade que você mesma escolheu, que quer tentar algo diferente mas não sabe nem por onde começar. É difícil não se bastar para si.
Sim, eu sei, já ouvi de monte “vinte e poucos anos? Ah, é jovem! Tem tempo ainda.”, “sua vida está só começando, você vai se encontrar.” “relaxa, muita gente também se sente assim!” e muitos outros derivados que escancaram toda a minha ansiedade e em primeiro momento não me oferecem conforto algum, só fazem com que eu me sinta dramática. Não me leve a mal, sou grata pelas palavras de conforto que recebo, mas não me sinto diferente com elas.
Existe certo egocentrismo quando lido com adversidades. Este problema é meu, este sentimento é meu, este problema é meu e o jeito que sinto é meu. Mais gente pode estar em crise, mas do jeito que eu sinto sou só eu.
Acredito que todo mundo se sinta um pouco assim com seus próprios problemas. Tudo é tão pesado e difícil. Sobre mim em específico, o vazio de não saber quem sou e não saber o que posso vir a ser me consome quase que rotineiramente, começa pelas minhas entranhas e por último alcança meu cérebro, me dando dor de estômago enquanto tenho lucidez suficiente para sentir toda essa perturbação.
Tenho certa dificuldade em me abrir com os outros. Na verdade eu já melhorei muito comparado a como eu era antes, mas ainda encontro certa relutância em expor minhas vergonhas e angústias para alguém. Também aprendi a selecionar a quem me expor, mas esse assunto é outro. Enfim, ainda sinto tudo tão pesado e difícil, mas pode ser compartilhado, e são nestes momentos de troca que me acalmo e percebo que sim, realmente, é comum. Estamos todos perdidos do nosso próprio jeito? Quem sou? Por quê sou? O que posso ser? O que quero ser? Uns com mais, outros com menos, mas me parece que viver é buscar quem somos de verdade.
De fato, eu só tenho vinte e poucos anos. De onde vem toda essa pressa? Quando Billy Joel cantou “slow down, you crazy child / you’re so ambitious for a juvenile”1 eu tenho certeza de que foi pra mim. E para minha amiga, para minha outra amiga, para mais uma amiga minha, para uma pessoa que eu nem conheço, para outra que nunca ouvi falar e também para você. Não tenho todo o tempo do mundo, mas ter algum tempo já é alguma coisa.
Dar tempo ao tempo talvez seja uma das maiores dificuldades que tenho. Não me considero impulsiva, mas me vejo como uma pessoa imediatista, e esse imediatismo se soma à ansiedade natural e à generalizada que tenho. Por vezes me sinto sem ar e a ponto de implodir. É difícil parar e deixar a vida por si só acontecer e ter a paciência de deixar ser. De fato, é preciso confiar no processo. “When will you realize / Vienna waits for you?”2. Estou trabalhando nisso.
Digo que atualmente estou em um estado de falsa paz: não estou feliz, não estou satisfeita, mas toda a tristeza e ansiedade do mundo não vão fazer nada por mim, não preciso tornar mais pungente um processo que naturalmente já me é doloroso. Ainda não sou do jeito que quero ser, mas não preciso me punir por isso. Mudar de dó para compaixão.
É um baita trabalho achar conforto em si, mas precisamos disso.
Excerto de Vienna, canção de Billy Joel. “vá com calma sua criança louca / você é tão ambicioso para um jovem”.
Excerto de Vienna, canção de Billy Joel. “Quando irá perceber / que Viena espera por você?”.
Demais! Como é bom ler alguém que sabe por em palavras o que a gente sente 🥰
Lindo demais, Du! ❤️❤️